Santo Sudário «foi a primeira selfie» da história
O pretendente ao trono Emanuele Filiberto de Sabóia, príncipe de Veneza, esteve em Portugal por ocasião da instituição da medalha “Pro Sindonologia – Umberto II de Sabóia, Rei de Itália”, uma distinção que visa premiar todos os que, por via da sua devoção ou dos estudos académicos, demonstrem interesse pela questão do Santo Sudário, o tecido que terá envolvido Jesus depois da sua morte.
O tecido foi pertença da casa de Sabóia durante séculos, tendo sido entregue ao Vaticano no século passado.
Emanuele aproveitou a vinda a Portugal para visitar Fátima, local de grande devoção para o seu avô, o Rei Umberto II, que esteve muitos anos exilado em Portugal e não faltava a uma peregrinação. Em conversa com a Família Cristã, falou da importância de se estudar o Santo Sudário, das polémicas que o envolvem e da sua relação com o nosso país e com Fátima.
Como é que vê a criação desta medalha que premeia estudos e devoções sobre o Santo Sudário?
É uma boa coisa, pois refere-se à Família que foi proprietária e herdeira da Sindone por mais de seis séculos (sendo adquirida pelos Duques de Sabóia no ano de 1453); esta medalha quer premiar os estudos críticos que se fazem sobre este “Sudário”, estudos que obrigam os cientistas a ser rigorosos e imparciais; Também quer premiar as pessoas que propagam a devoção ao Culto da Sindone que inclui orações próprias e festa a 4 de Maio, conferida pelos Papas. A Sindonologia é o nome dado ao estudo desta relíquia insigne, que muitas vezes é erradamente referida como Sudário, termo que vem do francês e que quer dizer pano de rosto. Devia-se dizer Sindone ou Mortalha.
Enquanto devoto, qual a importância que dá ao Santo Sudário para a Igreja e para os fiéis?
A imagem que está representada na Sindone não corresponde a nenhuma das possibilidades de actualizar pinturas e é, sem dúvida, uma impressão efectuada por descoloração de fibras resultante de uma explosão radioactiva ou uma força semelhante. Quando a equipa de cientistas da NASA e da STURP quiseram ver se a Sindone era uma pintura, bastou o fotógrafo Barry Schwartz iluminar o pano por detrás com uma luz natural e em vez de aparecerem traços das tintas ou pinceladas, a imagem desapareceu totalmente. Não restam dúvidas de que não é pintada nem feita com nenhum processo artístico.
Mas houve vários restauros que dificultam a datação da mesma...
Eu sei que efectivamente a Sindone foi restaurada várias vezes e seria interessante concluir outros estudos para tentar chegar a uma resposta que provavelmente a ciência actual não pode demonstrar. A devoção para com uma relíquia não significa que considera esta como verdadeira, mas considera os “actos” que foram atribuídos à pessoa que viveu, digamos assim, a Paixão de Cristo. É um símbolo ao qual se de dar uma justa colocação, símbolo que Papas, Cardeais, Bispos e Reis veneravam e ainda veneram com uma devoção que era antigamente reservada e privada, e que é hoje pública e mundial. A família Sabóia quis partilhar esta relíquia com o Mundo.
Desde que meu avó o Rei Umberto II de Itália doou o Sudário ao Papa por testamento, tornou-se o artefacto arqueológico mais estudado de todo o Mundo.
Acha que é de facto o verdadeiro Sudário, e que é o verdadeiro rosto de Jesus que ali se pode ver?
Ninguém pode hoje dizer que ali foi enrolado o Corpo do Nosso Senhor Jesus, mas pode dizer-se que temos a necessidade de investigar mais, com o desenvolvimento da ciência; no que se refere ao rosto de Jesus, este é parecido, para não dizer igual, aos rostos de ícones mais antigos com marcas distintas.
As manchas de líquidos e tipo de sangue correspondem ao Sudário ou Pano de rosto de Oviedo, Espanha. Não tem uma etiqueta a dizer que era de Jesus, mas podemos dizer que foi a primeira "selfie".
Mas as polémicas têm sido muitas ao longo dos anos…
Quanto à polémica, estendeu-se ao estudo de Carbono 014 feito em 1988, que deu resultados que colocam o pano nos tempos medievais, mas lembramos que o Sudário foi recortado e depois o tecido substituído e reparado com técnicas semelhantes e sujeito a várias práticas envolvendo velas de incenso em ritos litúrgicos, para além do fabrico de cópias. Como revelou um estudo do uso da relíquia pela Casa de Sabóia feito pelo perito em relíquias do Gabinete dos Patronos dos Museus do Vaticano em Portugal, Carlos Evaristo, membro da nossa Ordem, em 2012 foram revelados pela primeira vez factos que até então eram só conhecidos pela Casa de Sabóia. Tendo sido manipulado desta forma, ao longo dos séculos ficou comprovado que só podia dar uma datação errada. Anteriormente, os estudos mostraram que o tecido é da época de Cristo e por isso hoje o texto de 1988 já não é mais considerado fiel para a maioria dos estudiosos.
Há um significado especial pela visita a Portugal, onde a Sua família esteve em tempos exilada?
Eu sou muito ligado a Portugal por várias razões: pelo facto de ter vivido algum tempo aqui, pelo facto de a primeira Rainha de Portugal e a penúltima terem vindo da minha família, e por sermos primos da Casa Real de Bragança. Para além disso, o meu antepassado Rei Carlos Alberto faleceu no Porto, e o meu Avô Umberto II aqui viveu longos anos cheios de nostalgia de Itália. A minha vinda a Portugal é também privada, neste momento, para relembrar os antigos laços desta Terra com a minha família, para uma devoção a Nossa Senhora de Fátima e para andar pelos caminhos que meu avô percorreu.