martedì 4 settembre 2012

"LINHAS DE WELLINGTON" DE PAULO BRANCO NO FESTIVAL DE VENEZA


Paulo Branco leva "Linhas de Wellington" à corrida pelo Leão de Ouro, o principal prémio do Festival de Veneza. O filme, um épico sobre a tragédia das invasões francesas, estreia os actores portugueses no tapete vermelho do Lido. 

 Começou hoje a ser exibido às 19 h locais o filme produzido por Paulo Branco, realizado pela viúva de Raúl Ruiz, Valeria Sarmiento, com financiamento luso-francês e com «100 % de mão de obra nacional», como diz Paulo Branco, estará no Festival de Cinema de Veneza, não numa competição paralela condescendente com cinematografias periféricas, mas na Sala Grande a disputar o Leão de Ouro com filmes de realizadores como Mira Nair, Terrence Malick, Paul Thomas Anderson ou Robert Redford, Spike Lee.

"Linhas de Wellington" é um épico fulgurante sobre os dias que antecederam a derrota das tropas francesas, em 1811, nas linhas de Torres (um conjunto de fortificações de 150 léguas a proteger Lisboa), feito de uma tapeçaria de histórias de personagens quase todas anónimas, obrigadas ao êxodo e à guerra pelas invasões napoleónicas. E com um casting magnífico, onde os actores portugueses contracenam em pé de igualdade com as vedetas internacionais e auferindo todos o mesmo cachet. «Ganharam 400 euros por dia de filmagens», diz Paulo Branco. Incluindo John Malkovich, habituado a cifras de muitos zeros. Um projecto destes (custou apenas 4 milhões de euros), «só se faz com esta grande generosidade dos actores» , sustenta o produtor.

  «Ficaria muito contente se o filme ganhasse o Leão de Ouro, é óbvio. Mas o que importa mesmo é estar nesta competição com um conjunto de 18 filmes extraordinários e o que isso permite de visibilidade para toda a equipa portuguesa». Grande parte do elenco – que inclui nos créditos principais Nuno Lopes, Soraia Chaves, Marcello Urgeghe, Adriano Luz, Gonçalo Waddington, Albano Jerónimo – estará, a 4 de Setembro, no festival que decorre no Lido até dia 8. 

                                           Herdeiro de Mistérios

 O filme estreia em Portugal a 4 de Outubro e estará a partir de 21 de Novembro em 80 salas francesas. «Se eu quisesse tinha 150 cópias em França. Tive a Gaumont a dizer que me dava as salas do centro de Paris». Quanto ao sucesso de distribuição do filme, está, diz, assegurado: «O Mistérios de Lisboa tinha quatro horas de duração e foi visto por 120 mil espectadores em França». Por maioria de razões, uma longa-metragem com 151 minutos, com estrelas internacionais no cast como Malkovich, Catherine Deneuve e a espanhola Marisa Paredes terá mais facilidade em cativar o público internacional. 

 Paulo Branco permite-se pensar em grande, depois do incrível sucesso internacional de "Mistérios de Lisboa", obra produzida por ele e realizada por Raul Ruiz que venceu vários prémios em festivais e foi acolhido pelo New York Times como «maravilhoso» (arrecadando um milhão de euros em receitas internacionais). E, além do mais, produziu o filme de David Cronenberg estreado no Festival de Cannes, o muito menos aclamado "Cosmopolis".

 A carreira do filme já está agendada, independentemente do sucesso em Veneza (que não é só o galardão, mas também a validação da crítica e dos grandes títulos internacionais que fazem o nome das obras). "Linhas de Wellington" estará no Festival de Toronto, importante para o mercado norte-americano, no muito selectivo New York Film Festival, a 8 e 9 de Outubro, em que «os cinco membros do júri de selecção deram voto unânime», e estará a 13 e 14 de Outubro no Festival de Londres. «A partir daqui não há mais festivais. Os que o quiserem terão de pagar para exibi-lo. Os festivais servem para dar visibilidade aos filmes. Não faço colecção de festivais, nem ando a oferecer filmes», garante Paulo Branco, que diz ter escolhido Veneza para lançar esta produção e que sabia desde Maio que estava garantido na competição principal, «mas não podia anunciar»

                                                 Corridas de cavalo 

 Hoje, Paulo Branco estará numa prova de resistência equestre a fazer 160 km a galope em França. «E foi por causa dos cavalos que este projecto começou» , diz, dois dias antes de partir para França e depois para Veneza. Quando participava numa prova equestre, promovida todos os anos pela Câmara de Torres Vedras, nos montes onde se deram as batalhas em 1811, um vereador propôs-lhe fazer uma longa-metragem para comemorar o bicentenário das linhas fortificadas criadas pelo general Wellington. 

  «Estava a fazer nessa altura Os Mistérios e estava um pouco relutante. Disse-lhes que estava a meio de um projecto complicado, mas acabámos por marcar uma reunião» . A Câmara de Torres Vedras financiou o argumento que seria entregue a Carlos Saboga, «a única pessoa em Portugal que podia pegar num projecto destes. Foi um ponto de partida fascinante e estou orgulhoso, porque o Carlos Saboga fez um extraordinário argumento. Ele já tinha feito para a televisão francesa uma série sobre o Napoleão. E nós os dois temos profunda admiração pelo Raúl Brandão, ambos lemos o El-Rei Junot , e o Oliveira Martins». Saboga foi igualemente o argumentista de Mistérios de Lisboa .

 A ideia foi, diz, «desenhar um projecto ambicioso». Além dos 350 mil euros confiados pela Câmara de Torres Vedras (entre dinheiro e prestação de serviços), o filme contou com 690 mil euros do ICA e 480 mil euros da RTP. «O financiamento do canal público foi fundamental para conseguir os apoios internacionais», diz Paulo Branco. «Só com essa garantia é que depois é possível pedir dinheiro lá fora» . O montante restante foi obtido através de outros três canais franceses, onde a maior contribuição, 750 mil euros, veio do ARTE .

 A realização foi entregue a Raul Ruiz, que entretanto já estava doente e morreu na fase de preparação. «Houve um período de reflexão da minha parte. Qualquer pessoa que pegasse no projecto iria transformá-lo muito. Decidi que a amplitude da produção seria acrescida e não diminuída, de modo a compensar a ausência do génio do Ruiz. Falei com o Malkovich que disse logo que aceitaria e, sobretudo, se fosse a Valeria, que ele já conhecia, a continuar o projecto. Eu já tinha produzido três filmes da Valéria, sabia que ela era capaz de fazer o filme dela» .

 Com a morte de Ruiz, vários actores quiseram participar no filme e, por isso, «o Carlos Saboga foi acrescentando personagens e histórias pararelas para inclui-los. E isso funcionou, criando uma unidade narrativa fantástica». No genérico do filme há uma série de actores creditados ‘com a cumplicidade’ a marcar essa homenagem póstuma. É o caso de Maria João Bastos.

 E há uma pequena pérola, um trio formado por Catherine Deneuve, Michel Piccoli e Isabelle Huppert, três franceses abastados que recebem em casa, ao jantar, o general francês. «Essa cena deliciosa foi criada porque o Ruiz queria que houvesse um comentário externo, dos franceses, sobre os costumes portugueses» . Ao longo do filme são, no entanto, vários os exemplos do brilhantismo de Carlos Saboga, como a as várias aparições do general inglês interpretado por Malkovich, sendo memorável aquela em que dá a receita do bife Wellington. 

 telma.miguel@sol.pt

 http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=58375

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